quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Grandes livros para pequenos leitores #3 - Quando a Mãe Grita...

TÍTULO: QUANDO A MÃE GRITA...

Os grandes livros de que falo não são, obrigatoriamente, livros com prémios atribuídos ou livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura (o de hoje, por acaso, é). Podem ser conhecidos da maioria dos pequenos leitores ou desconhecidos. Podem ser caros ou baratos. Podem ter conteúdos que muitos consideram relevantes e mensagens interessantes. Ou não. São livros que me dizem alguma coisa, quer seja pelas experiências que me proporcionaram, quer seja pelas ilustrações ou pelos textos que captaram a minha atenção. Por alguns livros, sinto amor à 1ª leitura, outros, surgem como resultado de pesquisa - procura de um determinado tema, por exemplo.
Apaixonei-me pelo admirável mundo da Literatura Infantil quando uma professora me pediu para realizar um trabalho sobre 10 livros destinados aos mais pequenos, passei a olhar para eles nas prateleiras das livrarias com outros olhos e as visitas a estas lojas passaram a ser mais demoradas. Falo de livros infantis sem critérios definidos, o conhecimento que tenho acerca deste universo traduz-se nas sensações que os livros me transmitem, logo é reduzido e subjetivo.
A maioria dos livros desenvolve o sentido crítico dos leitores. Muitos deles promovem a reflexão sobre a mensagem explicita e a descoberta pela implícita. Acho que os livros não se tornam piores ou melhores, nós é que amadurecemos e desenvolvemos um sentido crítico sobre as ideias que eles transmitem. Acho que isso é bom.
O livro de que falo, no primeiro folhear, não despertou em mim o que sinto hoje. Continuo a gostar muito dele, mas reconheço que a mensagem que me transmite hoje é muito mais forte do que a que me transmitiu no início. Na altura em que o descobri, a mensagem que retirei foi a de que os laços afetivos entre pais e filhos (neste caso, entre mãe e filho) se sobrepõem aos conflitos do quotidiano. Para mim, o livro relata a história de milhares de mães que, perante a desorganização do dia a dia, exteriorizam a frustração que sentem (neste caso através do grito) por não conseguirem chegar a todo o lado, por uma birra que não foi contemplada na rotina diária, por um contratempo que surgiu, por milhares de coisas que fogem do nosso controlo. No entanto, no final, o amor e o bem querer a um filho falam mais alto. A mãe erra, mas reconhece e pede desculpa. E se quando gritou, o filho ficou despedaçado, então, a mãe procura todos os pedaços e une-os, pacientemente, com a linha do amor.
Há algum tempo, em conversa com uma pessoa com quem trabalho (é Psicóloga) acerca da variedade de livros infantis que hoje existe, mencionei este livro. Com um orgulho imenso por lhe apresentar esta relíquia, da qual eu só via o lado romântico, debitei a informação, descrevi a história, fiz a minha interpretação e vendi a minha conclusão acerca do mesmo. Ela olhou para mim de forma serena e, com uma voz tranquila e segura, disse-me: Pois, mas os remendos/as cicatrizes ficaram lá, são visíveis; e isso não é bom. Esta capacidade de análise que os Psicólogos têm mesmo fora do contexto de trabalho é maravilhosa. Assumo, sem qualquer problema, que descubro coisas novas através da análise dos outros, reflito sobre as ilações de (alguns) outros, desde que me façam evoluir, desde que acrescentem ou consolidem alguma coisa. Encaro a diferença de opiniões (nesta caso ilações) como uma mais valia. Como é que uma mensagem destas me escapou?
Não tenho por hábito gritar com o meu filho, mas, às vezes, quando estou zangada, o tom, apesar de baixo, é mais agressivo, mais sério e mais seco. Este livro incentivou-me a refletir mais sobre as sequências de algumas atitudes o que, na minha opinião, faz dele uma grande livro. Assim sendo, considero que é um bom livro para miúdos e graúdos. :)
Se alguém mo quiser oferecer... Mãe, mana, tia, pai Natal estão a ler isto?

Um livro de Jutta Bauer da Editora Gatafunho.

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