segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Selena, a menina que se indignou com a lua

Era uma vez uma menina chamada Selena, vivia no Palácio Encantado da Infância, no Vale da Fantasia. Tinha "super poderes", mas, por vezes, não sabia como usá-los.
Selena era uma menina feliz, fazia amigos com muita facilidade e nunca se cansava de brincar. Há muito, muito tempo, frequentara um Jardim Encantado da Infância no qual deixara saudades, no qual a chamavam de menina castiça. Na Era atual, frequentava um Jardim Encantado da Infância maior, um Jardim que tinha mais crianças, mais salas e muitos espaços para brincadeiras, que requeria maior capacidade de adaptação. Ainda assim, ela não se intimidava com a grandeza daquele espaço, pois sabia que seria feliz em qualquer lugar e que faria os amigos que quisesse, afinal, tinha "super poderes". Havia, no entanto, uma coisa que ela ainda não compreendera, mesmo com os seus poderes: existia uma bola brilhante que teimava em dormir no teto do seu Palácio, com a qual ela não conseguia conversar nem brincar.
Depois dos dias preenchidos com brincadeiras e amigos, a pequena Selena regressava ao seu Palácio e lá encontrava aquela pequena bola brilhante instalada no teto da sua casa, quer fosse no seu quarto, na sala ou na cozinha, lá estava ela. Ela vivia indignada com aquilo, não sabia se aquela bola também aparecia aos seus amigos. Durante o dia, no Jardim Encantado da Infância, ela nunca a via, no entanto, à noite, quando regressava a casa, lá estava ela. O teto do seu Palácio era transparente e era frequente ver, para além daquela bola, as estrelas.
Numa bela noite, em que a bola lhe apareceu maior do que o costume e ainda mais brilhante, Selena decidiu sair do Palácio às escondidas da sua mãe. Uniu vários lençóis com nós bem apertados e desceu pela parede rugosa do Palácio Encantado, deslizando pela corda elaborada manualmente. Assim que colocou os pés no chão, correu pelas ruelas do Vale da Fantasia. De quando em vez, olhava para cima e lá estava a bola brilhante por cima da sua cabeça. Ela tentava fintar a bola brilhante mudando de direção rapidamente, escondendo-se atrás de um prédio e aparecendo à frente de um outro, metendo-se debaixo da mesa de madeira do Café Feitiço, espreitando pelos espaços entre as ripas de madeira, mas lá estava ela sempre à espreita. Correu a noite inteira e constatou que aquela bola a seguia para todo o lado. Quando chegou à porta do Palácio estava tão cansada que não conseguiu trepar a parede através da corda de lençóis e começou a chorar. O que iria pensar a sua mãe quando a fosse acordar e não a visse na cama? O que lhe iria dizer quando soubesse que ela tinha saído de casa às escondidas? Será que nunca mais iria confiar nela?
Foi então que a Bola Brilhante se apresentou: Olá Selena, eu sou a Lua. Não tenhas medo, eu ando sempre atrás de ti para te proteger, porque fui incumbida dessa missão há muitos anos atrás. Tu não sabes, mas Selena significa "Deusa da Lua". É o que tu és, por isso eu protejo-te. A Lua transformou-se em vírgula, desceu até à altura de Selena em formato de baloiço e transportou-a até ao seu quarto. A mãe de Selena, a rainha Ela, nunca descobriu que Selena não dormira em casa naquela noite. A Lua passou a conversar mais vezes com Selena, passou a ser a sua confidente. E Selena, sempre que precisava, sempre que estava triste, esperava pela noite para falar com a sua protetora.
A Lua explicou-lhe ainda que, de vez em quando, ganhava a forma de uma vírgula para que os pontos finais que aparentavam aparecer na sua vida não fossem definitivos. Assim, Selena poderia alterar a sua história, o importante era que fosse feliz. E assim foi, o livro que relata a história da vida de Selena tem muitas páginas, foi escrito a tinta dourada, com pontuação adequada, com ilustrações sublimes e com um final feliz.

Esta história é dedicada à minha querida sobrinha que faz 5 anos hoje: uma mão cheia de alegria, de felicidade plena e de amor. Aqui estão as conversas que originaram esta história.

Minha pequena Selena, não te lembrarás dos presentes que vais recebendo ao longo da vida, mas isso não é importante. Na verdade, o que eu gostava que recordasses, ao ler esta história inventada/adaptada, são as experiências que nos proporcionaste com a tua maneira de ser, o quanto nos fizeste sonhar e sorrir com as tuas questões e dúvidas. O que eu gostava que recordasses é a infância que tiveste e a criança que foste - espero que ainda sejas um pouco dessa criança quando leres isto.
Parabéns minha pequenina, não tenhas pressa em crescer e lembra-te que todos nós, cada um à sua maneira, seremos a lua que, de vez em quando, se transforma em vírgula. A vírgula que substitui algum ponto final que te faça sofrer. Parabéns e um grande beijo desta tua tia que te adora.

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